Açúcar Residual?
Este ano, estou particularmente confuso quanto aos balanços de açúcar residual, pois, sou adepto de uma secura quase extrema (mais envelhecimento). Para mim, este parâmetro, funciona no vinho como o açúcar no café, esconde os defeitos e não amplia assim tanto as virtudes. Mas, a verdade é que a crítica e especialmente o consumo, apesar de apregoarem a preferência pelos vinhos secos, consomem e valorizam, sempre mais, os vinhos com docinho mais alto (ainda que sem exageros, claro!).
Sei, obviamente, que interessa, o equilíbrio com a acidez, mas, o que normalmente não se diz é que a elevada (e quanto a mim, absurda!) pressão que o mercado vai fazendo para que os brancos saiam logo que possam (Janeiro a Março do ano seguinte), faz com que a maior parte não saia com tudo muito bem casado e por isso não é estranho encontrar vinhos que cheguem a Setembro/Outubro e se mostrem cansados e sem frescura. Não porque se perdeu alguma coisa, ou porque o produto seja de má qualidade, mas, porque o vinho foi amadurecendo e a rusticidade da acidez diminuindo. Esta, agora mais fina, deixa que um açúcar residual (agora excessivo!) se sobreponha e destabilize o conjunto.
Hoje em dia, a enologia de vinhos brancos, já é boa a muito boa, na maior parte das adegas e por isso, não encontro nenhuma justificação para, logo em Janeiro, os produtores serem “obrigados” a lançar para o mercado os brancos e rosés, sob pena de terem de ficar com eles…
A minha avó já dizia: “As cadelas apreçadas, parem os cães cegos!”
O que preferem então?
Comentários
Venho pela primeira vez visitar o teu blog. Ainda não tinha conhecimento (infelizmente) mas pelo que conheço de ti não será tempo perdido concerteza passar por cá. Como sabes eu também sou daqueles que tem a "mania" de dar opinião e discutir a minha visão das coisas.
Vamos então ao tema: è muito pertinente, embora eu sinta que é um tema espiral- daqueles em que damos voltas e mais voltas e parece que não chegamos a lugar algum. Eu não defendo mais ou menos açúcar residual.
Como consumidor tenho clara preferência pela autenticidade do vinho, ou seja procuro vinhos onde a matéria-prima assuma a maior expressão e a tipicidade regional, varietal etc sobressaia. Mas isto sou eu..
Os hábitos de consumo alteraram-se. O perfil de consumidor também. O Vinho deve ser descomplicado, democratizado cada vez mais na minha opinião. Invariavelmente os produtores procuram as "fórmulas mágicas" que do ponto de vista técnico lhe permitam atingir os vinhos consensuais.
As margens dos vinhos são cada vez mais baixas, a pressão sobre os preços cresce a cada dia e muitos produtores vêm apostando e nos segmentos de maior volume (mais baratos por norma) onde os inputs no vinho são inferiores mor motivos de racionalidade económica. Neste segmento encontramos muitos vinhos interessantes, onde cada produtor procura satisfazer o amior numero possível de clientes,ou seja agradar a gregos e a troianos.
Assim chegamos ao açúcar residual. Não sendo estatístico e não possuindo dados objectivos para o efeito (Em Portugal muito se estuda mas dados concretos tendem muito a faltar) arrisco alvitrar que os vinhos com teores de açúcar residual superior ao convencional recolhem maior preferência. Não creio que seja apenas por uma questão de antecipar o seu lançamento no mercado pois outras soluções existem e se realçaste e bem o caso dos brancos, poderemos também falar de tintos.
Em suma penso que é essencial produzir o que o mercado "pede" mas também insistir em apresentar ao mercado a diferenciação e riqueza que os nosso vinhos podem alcançar. Senão em breve podemos falar do vinho como da comunicação social - os jornais só dão desgraça mas aparentemente foi esse tipo de informação que fez crescer as audiencias.. Devemos procurar também outro tipo de cultura vínica facultando outra informação (leia-se vinhos) que possam constantemente despertar os mais atentos que o vinho não é apenas uma bebida..
Obrigado pelo comentário e pelas palavras!
O que dizes é certo, mas temo que, ao ser tomado à letra possa amplificar esta realidade vigente do vinho como sendo um produto quase normalizado, formatado. Não posso aceitar que num pais com um passado desastroso, no que ao vinho diz respeito, e sem ter um “Motivo de Compra” (a expressão é de Henrique Agostinho no livro Vende-se Portugal), se tente ir exclusivamente atrás das modas e dos perfiz de consumo. Penso que o caminho terá de ser, fornecer esses produtos sim, enquanto se procura uma identidade colectiva (mesmo que esta seja um somatório de várias individuais!), uma especificidade, força, consistência, garantia, fidelidade… Terroir?
A tua resposta subscreve o que eu pretendi clarificar. Porém a produção de vinho é um negócio. A crescente e necessária profissionalização dos agentes económicos obriga a uma visão mais pragmática da actividade. Como tu disseste atrás "a esta industria", termo este que há bem pouco tempo seria quase - se é que ainda não é - visto como uma heresia por parte de muitos.
Poucos são os que se podem dar ao luxo de produzirem apenas o que querem.
No entanto acho que é nosso dever dar a conhecer a nossa riqueza individual e a nossa identidade comum e diferenciadora no mercado internacional.
Como me disseram há pouco tempo também "Velho Mundo" - Nós ainda pertencemos a um país que tem mais cultura de cerveja do que de vinho. O Nosso mercado não é maduro, apenas gozamos de um certo patriotismo proteccionista.
Por cá há poucas dezenas de anos atrás a cultura era do granel e de vinho para colónias. Portanto com excepção do vinho do Porto Nós não somos assim tão "velhos" na cultura vínica..
Já agora e em jeito de provocação, sabes qual era, no passado longínquo, a terceira referência vínica nacional?....
Pois é…. O Bucelas!
Parece que saem cada vez mais cedo. Não gosto daqueles brancos recem nascidos, com exuberancia descontrolada entre outros factores por afinar. Acho desnecessário colocarem vinhos tão cedo. É melhor esperar e surpreender os consumidores.
Um abraço,
Joel Carvalho - Entre Copos
Abraço!