Jancis Robinson e os Watson




Li, aqui há tempos na revista Wine, um impropério da pena da famosa Jancis Robinson que me deixou perplexo! A história diz-nos que até os maiores génios entram, quando maduros, em caminhos apertados e têm o dom de segregar opiniões, no mínimo, pouco geniais. Tive a infelicidade de “assistir” a um episódio destes há pouco tempo, perpetrado por um dos meus ídolos científicos, James Watson, somente um dos cientistas mais importantes do sec. XX.

Dizia a senhora Robinson que, existe uma classe de seres humanos, designada de super provadores, que tem aptidões genéticas que lhes permite provar e sentir o que os outros não conseguem. Ela chegou a afirmar que é portadora dessa faculdade (gene?) e que, mais que um dom, é um fardo por estar mais exposta aos pecados dos excessos e dos defeitos. Há muito chauvinismo! Há muita prepotência! Há uma pesada ignorância! Não há nenhum fundamento científico!

Não sei ao certo o que percebe a senhora de genética. Mas posso garantir-vos que nada nesta ciência nos aponta, nem perto, para essa conclusão. Por outro lado, acredito que as elevadas capacidades para a prova vêm do comportamento! Do Behaviorismo de Watson (este John, não James! Um pouco mais velho e, tanto quanto sei, sem nenhum episódio triste a registar!). Lembro-me dos meus primeiros episódios de prova! Não identificava, absolutamente nada, e, a possibilidade de alguém conseguir distinguir a madeira, dava-me alguma náusea. Treinei, treinei, treinei e hoje… posse afirmar! Já consigo identificar a madeira… desde que o vinho esteja carregado dela (o que, como sabemos, é a maioria)!

A maior parte de nós conhece as aptidões naturais que as mulheres têm para a prova. Acham que geneticamente são mais capazes? Nada disso! São é, desde pequenas, apresentadas ao fabuloso reino dos aromas! Até hoje, os melhores provadores que conheço são mulheres, e nenhum vinho que faça, vai para a garrafa antes de passar pelo escrutínio da minha!

Resumindo! Para mim os super provadores são função do treino, concentração e estudo! Na fórmula:

Super provador = (Treino + concentração + estudo) +∞

Muito ao jeito de Watson (do John), vou pegar nas crianças que me rodeiam e vou, na medida do possível treina-las para serem super provadoras. O meu filho (10 meses) adora cheirar vinho! A minha sobrinha (17 meses) adora cheirar vinho! O meu sobrinho (7 anos) já distingue o morango no rosé! Perdi, por enquanto, outras duas sobrinhas nessa luta, mas não sei se os 17 e os 12 anos têm alguma coisa a ver com isso!!!!!

Tudo pela ciência, claro!

Comentários

Por cá também temos umas espécies raras dessas, que quando escrevinham só dizem baboseiras, eu acho que é derivado do excesso de provas, quem muito prova começa assim a escrever patetice... é por isso que deixei de provar e comecei a beber :)
Anónimo disse…
Hugo,

Esse seu artigo é simplesmente genial. De certa forma a sempre admirável Jancis Robinson nos revela um pouco da habitual prepotência intelectual britânica. Nunca ouvi falar em "superprovadores". Na verdade o tripé "treino, concentração e estudo" se me afigura mais consentâneo com o que estou acostumado a realidade.

Por fim, tornei-me fã de seu blog. Passa lá no meu e se achar que vale à pena, torne-se fã também.

Um forte abraço

Jeriel
www.blogdojeriel.com.br
Hugo Mendes disse…
Jeriel!
Obrigado pelo elogio! Vindo de si tem outro peso!
Sabe, o que me revolta é o impacto que afirmações destas possam ter em novos consumidores que iniciam a sua caminhada! A prova, de inicio é uma coisa difícil e um pouco assustadora! Se ainda levamos com opiniões destas por quem tem uma vida de experiência… fica difícil!
Fã do seu blogue sou há muito! Deve haver aí um engano! Vou lá ver!
Abraço!
HM
Hugo Mendes disse…
João,
Patetice pura!
Para mim, comparável somente ao facto de, na (extinta?) Best Wine, terem deixado a Margarida Rebelo Pinto afirmar, com a convicção que a caracteriza, que os tintos eram para a carne e os brancos para o peixe! A Paula Bobone não diria melhor, depois de brigar com o João Paulo Martins por causa do tamanho dos copos!
Abraço
Paulo Coutinho disse…
Bravo caro Hugo. Grande abraço.
Rui Pereira disse…
Bravo Hugo!
Concordo em absoluto. A prova depende em absoluto de Treino + concentração + estudo. Tudo o resto é inventado.
Hugo Mendes disse…
Caros Paulo e Rui!
Muito Obrigado!
Abraço também para vocês!

Estranho ainda ninguem ter mensionadoq ue fez uma ou outra pesquisa na net e encontrou até o nome do gene que faz os superprovadores!
Eu já o enconttrei.... e agora?
Rui A. Teixeira disse…
Caro Hugo,

Será este o gene "TAS2R28" ?

E agora ???
Rui A. Teixeira disse…
O reverso da medalha é que de uma forma geral estes superprovedores com um sentido do paladar tão tão … apurado pecam por excesso, acabando por produzir uma opinião que difere drasticamente do consumidor em geral.

Logo, se a Srª Jancis Robinson é realmente uma superprovedora, como modestamente diz ser, não deverá de forma alguma ser tida como uma critica de referencia. È o que a ciência profere.

Mas possivelmente a senhora já efectuou tanto (Treino + concentração + estudo) que até pensa que já nasceu assim.

Esperemos que a moda não pegue e que os verdadeiros detentores deste gene se dediquem a outras coisas.

Um abraço.
Hugo Mendes disse…
Obrigado pelo comentário Rui!
A verdade é que, em seres geneticamente complexos como são os seres humanos, a simples presença de um gene, só por si não é significado de que essa característica se expresse. Muitos factores jogam aqui e muitas vezes existem outros genes que contrariam a sua expressão. Confuso?
Não! Eu exemplifico!
Existem genes que é normal encontrarem-se activos em pessoas que desenvolvem alguns tipos de cancro. Há outros que combatem a doença (os supressores de tumores). Podemos ter os primeiros activos e os segundos inactivos e nem assim desenvolver a doença, pois muitos dos tipos de cancro dependem da nossa envolvência ambiental, hábitos de vida e até de factores emocionais.
Tenho que essa característica, de super provador, a existir (e acredito quer não existe!) não será tão linear como a cor dos olhos ou dos cabelos. Será mais parecida à complexão física, do género: posso ser alto e ter tendências para ser magro, mas, se só comer hambúrguer com batata frita e não levantar um ferro ou outro, não serei certamente um mister universo, mesmo que os meus genes trabalhem todos nesse sentido!
Penso eu de que!
Anónimo disse…
Hugo,

Tenho a mesma ideia em relação às "aptidões naturais das mulheres" - e falamos em geral. Confio mais no nariz da minha mulher do que no meu!

Lembro-me em pequeno de não ligar nada aos aromas, às flores, aos perfumes, porque "são coisas de gaijas".
Estou arrependido dessa estupidez infantil (e não só) que tenho muito mais trabalho agora!

Arnaud
Miguel Pinto disse…
Caro Hugo, é frequente o recurso do "não há fundamento científico" para justificar aquilo que desconhecemos. Discordo consigo na aplicação da fórmula do "Super provador = (Treino + concentração + estudo)". Então não estamos a falar de sentidos? Não há pessoas que vêem bem? Outras mal? (e provado está que a miopia, p.e. é genética). E não há aquelas que ouvem pior que outras? Ou sugere que toda a gente nasce com as mesmas capacidades sensoriais e só o conhecimento e o treino é que as aperfeiçoa? Perdoe-me caro Hugo, mas duvido muito da sua tese.
Hugo Mendes disse…
Caro Miguel,
Obrigado pela participação! O seu contributo é importante e felicito-o pelo desacordo!
Agora os argumentos:
A prova de vinhos, pouco tem de objectiva. A parte associada às suas capacidades físicas, é muito reduzida comparada com o desenvolvimento de um conjunto de memórias olfácticas que lhe permitem identificar aromas, sabores e sentir emoções, uma vez que muitas vezes essa memória está associada a uma experiência mais ou menos positiva.
Decerto que prova hoje muito melhor do que quando começou. Consegue identificar “coisas” que há alguns anos era impossível, ou não?
Acha que esse desenvolvimento se prende com algum desenvolvimento genético de ultima hora, ou aceita que é uma acção comportamental, que resulta da aprendizagem com repetição?
Eu não nego que possam existir propensões genéticas que permitam algumas pessoas terem um maior numero de papilas gustativas que outras. O que digo é que isso só por si, não nos diz que vamos ser mais ou menos capacitados para a prova!
Penso que os seus argumentos se centram no facto de utilizar-mos os sentidos para efectuar a prova e logo estamos na presença de um mecanismo, meramente fisiológico. Bom, eu discordo! Para mim a prova utiliza-se dos sentidos, assim como das memórias e do conhecimento para criar emoções.
P.S.: O artigo ao qual me refiro está publicado na Revista Wine nº 6
Miguel Pinto disse…
Caro Hugo, está a dar o "dito pelo não dito" e a deturpar a minha interpretação. Estamos a falar de "super provadores" e no seu post inicial, chama "chauvinista, prepotente e ignorante" à Jancis por ela afirmar que é uma super provadora. Pondo de lado a prepotência dela em auto proclamar-se como tal, o que lhe digo é que ela tem razão. A propósito, encontrei isto no site do Gary Vaynerchuk (http://tv.winelibrary.com/gary-vaynerchuk-on-the-dr-oz-show/), que prova que está errado. Note que tenho em conta que o treino e a afinação dos sentidos é fundamental, e que se puser um "super provador" que tenha apenas muitas papilas e um óptimo olfato, será um provador mediocre, mas se treinar e desenvolver estas competências, atingirá este patamar. Sendo este um espaço de discussão aberta e positiva, não queria deixar de dar esta nota.
Cumprimentos
Hugo Mendes disse…
Caro Miguel Pinto,
Mais uma vez, obrigado!
Não é a Jancis Robinson que considero chauvinista, prepotente e ignorante. São as suas afirmações sobre esta matéria específica. E repare, muita gente ao ler o artigo até pode achar o contrário.
Eu não ponho em causa que algumas pessoas possam ter predisposições genéticas para possuírem um maior número de papilas gustativas. Não aceito é que isso por si seja sinónimo de pessoas com sentidos mais apurados para a prova!
É extremamente redutor tirar esse tipo de conclusão de um simples estudo onde se quantifica o número de papilas gustativas de uma pessoa e se relaciona com o seu desempenho na prova. Relacionam-se apenas duas variáveis quando existem muitas mais com possibilidade de intervir. E o facto de estas apresentarem correlação, não prova, por si que uma deriva da outra.
Pior, para mim, é a forma como isso pode intimidar pessoas que agora se iniciam na prova e que se deparam com a dificuldade que esta representa nos primeiros tempos!
Não vejo nas minhas palavras nenhuma contradição. Acho que um superprovados (não gosto desta palavra) resulta do comportamento, não dos genes.
Forte Abraço
Unknown disse…
Hugo,

Muitos parabéns por este artigo, excelente critica...
para mim esta história de "superprovadores" não é, nem mais nem menos, do que uma réplica da história de "O REI VAI NU"... conhecem???!!!
pois é.... quem ignora, acredita!

Rita Martins
Hugo Mendes disse…
Obrigado Rita!
É verdade, o que dizes!
Eu entendo que geneticamente as coisas não são tão simples assim! Por outro, não precisamos de fazer os outros pequeninos para sermos grandes! para quem tenta, há outra forma, muito mais emocionante de chegar lá! ; )

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