Encontro tramado no Supermercado

Encontrei-me ontem no supermercado com um grande amigo que, meio afogueado exaltou a coincidência de me encontrar ali e me pediu ajuda na escolha de um vinho. Queria algo entre os 15 e os 20€ e contava comigo, enquanto especialista, para o ajudar na demanda. Sabendo eu que o raio do homem é um excelente consumidor e muito bem relacionado dentro da prova de vinhos fiquei à rasca. Eu de especialista não tenho nada. Acompanho mal o mercado e tenho uma memória de peixe para as marcas. Sou, enquanto consumidor, tão comum como os mais simples de entre a fileira vínica.
Escuso de dizer que, por vergonha e à custa da boa e vetusta amizade que temos, acedi. Pedi à minha mulher que esperasse por mim na caixa e lá fui em elevada transpiração para a zona dos vinhos. Convém, nesta fase afirmar que estou terminantemente proibido de frequentar esta área em dias normais, não só em prol das finanças caseiras (há sempre um vinho daquele colega que não experimentei ainda!), como também em função da gestão do tempo familiar.
De fronte para o linear (é assim que se chamam as prateleiras no supermercado), o sobrolho lá começou a aliviar a tremura e lá consegui ver os rótulos que se me apareciam. Comecei por lhe dizer: “vamos para o Dão, Douro e Alentejo conheces bem!”. Senti-me bem, seguro ao dizer isto e fui relaxando os músculos, deixando-me levar pelo momento. Não é que ele me fosse partir os ossos se eu me enganasse. Agora que penso nisso, se há alguém capaz de partir todos os ossos do corpo enquanto me fala tranquilamente sobre este ou aquele vinho é ele. Nunca aconteceu, mas já ouvi estalar algumas vezes!
Para além de não haver grande escolha dentro dos valores que ele me referenciou, o risco, o atrevimento da escolha eram 0. Passámos para outra região e mais outra, sempre igual. Então onde estão os grandes vinhos? Nada!
Um olhar mais aturado e, preços muito mais baixos do que da ultima vez que os tinha olhado (Cartuxa tinto a 12€? Annhhh?). Para piorar, se é que ainda podia vir pior, fico com uma nítida (não necessariamente correcta) impressão de que os vinhos foram escolhidos em reuniões sucessivas com emissários das distribuidoras. Ou seja, pelo seu valor de pacote, não pelo real valor individual. Estranho! Ia jurar que a cadeia em causa tem um enólogo a escolher os vinhos e a aprovar lotes.
Não sei por que motivo, vieram-me à memoria as batidas palavras do ex seccionador nacional dirigidas ao Portuguesíssimo Pépe:
“Oi cara! Oi! Oi! Está bancando o bobo ou o puxa saco!?!?”
Estava eu perdido nesta abstracção quando senti o meu amigo sacudir-me a manga da camisa (era uma t-chirt, mas não tem tanta pompa na descrição). Inquiriu-me já com um ar enfadado, “então pá? Levo qual?”
Pensei: “Sei lá! Se fosse a ti, não levava nenhum!”
Disse: “leva este aqui, que está dentro daquilo que queres gastar, mas é tão bom quanto este que custa só 9,88€.”
Lavei dali as mãos e fugi para a caixa onde encontrei a minha mulher a tentar explicar ao meu filho de 1,5 anos que a Maggie Simpson pode passar na máquina dos códigos e ser arrumada num saco porque é um boneco animado e ele não!



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