Espumantes com carica? Mas isso não é cerveja?
Tudo a propósito de uma conversa que tive com Luís Pato (o
mestre) em Madrid, faz por agora um ano. Já não sei se era eu que lhe
confidenciava uma das minhas ideias peregrinas. É possível que sim, pois é
sabido que não sou muito bom a criar filtros e não tenho qualquer pejo, em
desbroncar as ideias mais parvas seja a quem for. Todas, com a mesma convicção
de quem descobriu a “cura” para a fome no mundo.
Como dizia, não me recordo se era eu o emissor, contudo, não
tenho duvida que foi nessa altura que o brilhante eno-marketeer me confidenciou
que se preparava para lançar no mercado um espumante selado pela vulgar carica.
Fiquei abismado com a semelhança das ideias. Eu andava há
muito a congeminar a hipótese de lançar algo parecido, contudo, um pouco mais
ousado. Pretendia fazer um “kit” em que a garrafa fosse vendida ainda em
estágio (com as leveduras da 2ª fermentação), acompanhada de um pequeno
livrinho com a explicação do que era e para que servia o estágio, dos vários
passos de remoage e degorgement.
Desta forma os eno mesmo chatos mais dedicados, poderiam
brincar de enólogos e comprar a hipótese de experimentarem, eles mesmos o
processo de remoage e degorgement. Mais uma vez, contemplava a minha obsessão
pela formação do consumidor
É óbvio que a comparação aqui reside somente no facto de
ambas as ideias estarem assentes no facto do vinho ser vendido com carica.
Contudo, os mais atentos saberão que jamais algum enólogo, dito normal,
pensaria em enviar para o mercado as suas brincadeiras e ousadias ideiotas.
Não deixo de congratular o Luis Pato que, embora seja um dos enólogos
mais antigos da praça, é também dos mais inovadores, provocadores e
enologicamente divertidos. Felicito-o por não se ter acomodado ao estatuto e de
continuar, constantemente à procura da “diversão” no vinho.
Não tenho qualquer pejo em afirmar que é, à sua maneira uma
das minhas inspirações neste mundo, particularmente pela forma como o aborda,
pelo prazer que continuadamente retira dele e pela disponibilidade que demonstra
SEMPRE a mancebos como eu, que mais vezes do que o bom senso exigiria, lhe enchem
a caixa postal de pedidos de aconselhamento ou pedidos de opinião.
Não quero exagerar da vossa boa vontade, mas não posso
terminar este post sem afirmar que
considero um crime, o facto deste Homem não ter sido ainda aproveitado por uma qualquer universidade,
dessas que formam enólogos e dão pós graduações em tudo e mais um par de botas.
Ponham este Senhor a inspirar os futuros técnicos, a ensinar formas de abordar
consumidores e de olhar para os mercados. Vão ver que vale muito mais do que
ter teóricos do marketing e técnicos sem a menor experiência de campo.
È que, quer se aceite, quer não, aos enólogos é exigido,
cada vez mais que saibam comunicar os produtos que ajudam a fazer.
Eu apenas posso garantir que tenho aprendido uma parga.
Obrigado Luís!
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