O Vinho no conceito artístico de Malevich
Há temas que, de tanto se discutirem no seio de comunidades
bem definidas, muitas vezes também, de dimensões reduzidas, esgotam todos os
argumentos pro e contra, assim ou assado, fazendo com que a discussão não
evolua e o empasse se instale. Costuma ser esse o meu alarme para procurar a saída de emergência.
Um desses temas é sem dúvida a relação do vinho com a arte.
Da sua classificação enquanto tal.
Até há dois dias, tinha chegado a uma conclusão confortável e considerava que o vinho não seria uma forma de arte, podendo ser, contudo, a expressão artística de alguém.
Até há dois dias, tinha chegado a uma conclusão confortável e considerava que o vinho não seria uma forma de arte, podendo ser, contudo, a expressão artística de alguém.
Este equilíbrio manteve-se até que na passada quinta-feira
tive a oportunidade de conhecer Fernando Carvalho Rodrigues. Ambos fomos
convidados para fazer parte de um júri, num concurso de ciência, com o seu nome,
promovido pelo agrupamento de escolas de Bucelas (belíssima e louvável
iniciativa à qual aproveito para deixar os parabéns!).
A coisa passou-se mais ou menos assim:
Falava-mos de educação e arte. Às páginas tantas, o mentor
da iniciativa, António Marcelino, menciona o vinho e imediatamente me perscrutam
da possibilidade deste ser arte. Expliquei o meu ponto de vista e passado
poucos segundos, o pai do primeiro satélite português, estendeu-me um
guardanapo com um quadrado desenhado. “O que vê?” – Perguntou-me. Pensando que
havia ali truque (com matemáticos nunca se sabe) respondi que se tratavam de
linhas a formar uma figura geométrica. “Um quadrado, portanto” – concluiu ele.
Ao que eu anui. “Não. É apenas um guardanapo!” – Disse depois com um ligeiro
esgar de gozo.
Invocou ainda a obra do pai do Suprematismo, Kazimir Malevich, intitulado: quadro branco sobre fundo branco, como imagem simbólica
para a sua definição de arte. Disse-me qualquer coisa como: “Qualquer criação
que nos faça abstrair da matéria que a suporta… é arte!”
Considero esta visão simples, mas muito poderosa. E estou
tentado a concordar com ela. Principalmente no que ao vinho diz respeito. Se a
premissa do digníssimo investigador é correta, então o vinho está dentro do
especto de “qualquer criação”.
Desta forma pergunto a todos vós:
Posso considerar como obra artística, um vinho que me faça
abstrair da matéria que o suporta?
Escuto
Comentários
Lembro-me que comecei a gostar de Picasso através do conhecimento da Guernica após receber um "aula" sobre o painel pela minha amiga e colega Isabel Lima. Até aí gostava ou não gostava das pinturas de Picasso. A partir daí comecei a apreciar, procurando conhecer o que está além da "matéria" .
Assim julgo que pode ser o vinho.
Posso simplesmente gostar ou posso apreciar e para isso precisamos de mais algum conhecimento.
Belo comentário. Obrigado!