Vinho para o consumidor ou consumidor para o vinho ?


A frase título é talvez uma das primeiras questões que um produtor se coloca quando inicia a actividade. Pessoalmente, não me faz sentido que se crie uma estrutura ou se delineiem estratégias antes de existir uma resposta concreta.
Não resisto à ironia de afirmar que, em Portugal, embora sejamos governados há mais de 35 anos pela política centrista, somos, no que às opiniões diz respeito, um povo de extremos. Normalmente, amamos em oposição ao odio. O meio-termo…. É coisa de gente fraca! Pois eu acho que o extremo é coisa de gente burra!
Mas afinal, do que se trata?
Bem, podemos dividir a produção de vinho em dois conceitos distintos? Se sim, eu faço-o desta forma:
 De um lado fica o produtor que faz vinhos inspirados naquilo que são os sinais do mercado. Produtor Taylor Made. Do outro lado, o produtor que procura interpretar as uvas e retirar delas a alma que contêm. No marketing andará em contra corrente face ao primeiro, pois tem de procurar no mercado os consumidores que respondam aos seus motivos de compra. é o Produtor Soul Made.
Enquanto enólogo, sou francamente partidário do segundo, enquanto embirro com o primeiro. Enquanto cidadão, pai e marido, respeito e farei vinho para ambos desde que nenhum me peça para violar princípios.
A moral, se existe, está aqui: A escolha de um caminho não deverá servir para diaboliza o outro. Ambos podem ser reflexos de posturas respeitosas face ao consumidor. Ambos podem ser fruto da visão romântica do produtor. Ambos podem ser refluxos gástricos de grandes filhos da puta cuja paixão só se manifesta pela nossa carteira.
Respeitemos ambos, mesmo que nos pareça obvio que um destes caminhos nos leva ao precipício. Às vezes… não é bem assim!

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