Câmara de provadores TWA - 2ª Edição
Foi no passado sábado que voltámos a reunir a câmara de provadores twa. O local escolhido desta vez foi (e temo que em muitas edições futuras) a catedral do enochato...... Claro! O Solar dos Pintor.
Não vou ao que interessa sem antes dar conta que, cheguei, tinha espaço no frigorífico à espera das garrafas que trazia e o armário dos copos (decantadores e demais traquifana indispensável a chatos como nós) aberto e inteiramente à nossa disposição. É assim naquela casa.
Muito bem, a prova:
Começa a tornar-se crónico, cheguei com meia hora de atraso, pumba.... toda a gente em "cima de mim" alguns twitts, reclamações e.... valeu-me Deus, pelo facto de ter mandado o André Ribeirinho para Itália, senão ainda hoje o ouvia acusar-me do atraso.
Na bagagem:
(1) 3 ensaios de vinhos brancos guardados por 3 anos com borra fina;
(2) um engarrafamento de Arinto de Bucelas, fermentado com leveduras indígenas, também com 3 anos de garrafa;
(3) um ensaio de vedantes no Quinta da Murta Clássico 2009;
(4) Carrafouchas tinto 2009 com estágio de madeira semi nova e só com inox.
Resultado:
(1) No final da vindima 2009 referenciei 3 cubas acabadas de fermentar e engarrafei algumas garrafas de cada com uma boa dose de borra fina (leveduras e demais restos de fermentação). Não havia nenhum grande motivo associado, apenas o querer perceber de que forma o prolongado contacto do vinho com as borras o afecta, bem como perceber se as borras se conservam ou não!
Deixei passar alguns anos mais (deveria ter provado ao fim de um ano) mas o resultado foi altamente conclusivo e coincidente com o esperado. As borras oxidaram e oxidaram também o vinho, contudo, deram volume e "amaciaram" a acidez sem a fazer desaparecer ou diminuir. Confirma ainda que a batonage tem de ter uma dose e que esta deve ser encontrada em função do perfil que se quer para o vinho. Preservamos os aromas "primários" quando toca a menos e aumentamos a estrutura + aromas secundários se tocamos a operação a mais.
(2) Este ensaio, foi de facto a minha epifania. Vinho de 2009 guardado logo após a fermentação. Uma amostra não filtrada da cuba, conservada por 3 anos. O vinho, fermentado com recurso apenas às leveduras que a mãe natureza lhe deu, fermentou normalmente (demorou apenas um pouco mais a arrancar com a fermentação pelo que obrigou a cuidados extra para evitar oxidação) e no final, recordo, era a cuba com menos aromas primários, menos intensidade e com um balanço qb. ou seja, não lhe reconheci defeitos, mas também não lhe descrevi grandes qualidades.
Quando agora abri esta amostra pela primeira vez, entendi claramente que estou no caminho certo para chegar onde quero. E isso é onde? Vinhos que me façam salivar, literalmente. Lembram-se daquelas pêras que comíamos quando éramos petizes? Aquelas que mal cravávamos o dente nos faziam encher a boca da real baba e nos inundavam as papilas com um intenso sabor a... pêra? È essa intensidade rústica e genuína que procuro. E aqui encontrei uma sólida pista sobre qual o caminho a seguir. É preciso dizer mais alguma coisa?
(4) Esta prova teve mais um carácter formativo do que "ensaísta" É engraçado, nesta fase perceber de que forma evoluiria este Carrafouchas (o tinto 2009) caso não se tivesse usado madeira. Se alguma conclusão tiro é a de que, o tinto perfeito, desde que feito por mim, levará sempre uma dose de madeira. Usada e com um estágio prolongado para parte do lote. As diferenças deixo para os post dos provadores (que "linkarei" em baixo à medida que forem saindo... se sair algum! : )).
(3) Muito bem, de todos os ensaios, este era o que não tinha provado ainda. Tinha uma ideia teórica do que estaria ali, mais nada. Duas garrafas de Quinta da Murta Clássico 2009. Dois anos de estágio em garrafa. Uma com um vedante sintético e outra com rolha de cortiça natural. Com este ensaio (tenho amostras para mais uns anos) quero perceber de que forma este vinho evolui com cada um dos tipos de vedante testados, assim como provocar os provadores com estas teorias que há muito defendo.
Esperava uma maior evolução do vinho, o que é bom. No engarrafamento, esta colheita foi a que se mostrou com mais aromas primários pelo que sempre temi pela sua evolução. O tempo deu-nos razões para sorrir e temos hoje a confirmação de que, não só não tínhamos motivos para preocupações como a sua evolução está a fazer-se no sentido que desejamos (estão agora a aparecer as notas minerais....). Comparativamente temos o vinho rolhado com sintética a preservar melhor as notas frutadas e florais, mas a não deixar ainda ver a mineralidade. Muito novo, pouca evolução. Na amostra rolhada, a evolução é evidente, contudo, aproxima-se mais de um vinho "maduro", com a mineralidade desenvolvida, madeira casada.
Maioritariamente, os provadores preferiram o vinho mantido com cortiça, mas pelo mesmo motivo pelo qual eu ainda não gosto do Clássico 2011. Está novo demais.
Façam a extrapolação para outros tipos de vinho e tirem as vossas conclusões, se quiserem! Eu continuarei na minha: "deve ser o enólogo, em consciência, a decidir pelo vedante mais indicado para o vinho". (citei-me e pus aspas e itálico.... uiii! Consigo ser mais narcisista que isto?).
Resta-me o agradecimento ao staff do restaurante, em especial o Sr. Luís e à D. Aurea, bem como aos provadores presentes. A saber: Sara Fernandes; Ricardo Ramos; Diogo Rodrigues; Jorge Nunes; Daniel Matos; Pingus Vinicus; Nuno Ciríaco; Carla Reis e o penetra António Maria.
Reforço mais uma vez o convite aos demais enólogos e produtores para usar esta câmara para a prova dos vossos ensaios.
NOTA ESPECIAL:
Sim, o post está comprido demais. Não posso ir daqui, contudo, sem afirmar que, no final da prova é comum levar-se umas garrafas para partilhar. o Jorge Nunes, levou uma destas:Terra Larga branco1999 bebido no Solar dos Pintor |
"Ah e tal, vinhos brancos só do ano!!!"
TUMBA.... VAI BUSCAR!
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