Garrafeira dos Enólogos

Fonte: Site Avedol - Soluções de espaços comerciais.
Se há conselho que vou dando a todo e qualquer produtor com quem me cruzo ou trabalho é o de guardarem garrafas, em quantidade suficiente, de todas as colheitas.
Ok, ok. Por ser bonito. Por ficar bem numa visita de jornalistas, blogs e bloguetas. sim! Pode ser! Mas não é só isso. Deixo de fora, no presente registo, todas  as questões comerciais. Mesmo aquelas que pressupõem a retirada de umas paletes para ser colocadas à venda dai a uns anitos. 
Aqui o que quero é apenas provar a necessidade (que muitos produtores não sentem) de guardar para os futuros enólogos, quantidades suficientes de colheitas passadas a fim de que, num espaço mais curto este se possa inteirar do histórico da empresa. Do comportamento das uvas e do trabalho realizado até ali.
Confuso? Eu explico com um exemplo:

 Quando cheguei à Murta, não existiam colheitas anteriores. Nada. Apanhei ainda meio no ar, umas garrafas de 2004, que não guardei por falta de sensibilidade. Da colheita 2005 guardámos umas caixas que, começo a ter de poupar se quero deixar algumas para o meu sucessor. Daí para cá, guardam-se sempre, algumas caixas.
Onde as uso? Tenho gasto mais garrafas da colheita 2005 precisamente em feiras e eventos vínicos como forma de provar que os Arintos de Bucelas, ao contrário do que muitos auguram (auguravam?), não servem só  para consumir em novos. O resultado tem sido excelente. Muitos de vós poderão confirma-lo. Outras situações em que não dispenso a abertura de garrafas antigas, são as verticais de preparação para os novos lotes. Para não estar a encher demasiado este post, leiam aqui se faz favor. Ok. Já perceberam?
Pessoalmente, acho que devemos ir um pouco mais longe. Dei por mim a criar a verdadeira garrafeira dos enólogos. Espaço onde vou arquivando colheitas para formação futura, bem como algumas provocações, mimos ou ensaios com resultados interessantes que possam dar uma boa noção do comportamento das castas na propriedade. Deixo, literalmente, presentes para aqueles que me sucederem. Imaginem o que é chegar a uma quinta, assumir a enologia e ter logo à disposição vinhos de não sei quantas colheitas passadas, variações às versões de mercado e ensaios cujos resultados mostraram conclusões úteis. Formação, meus senhores! Formação em estado puro!

Em menos de nada adquirirão conhecimentos seguros sobre a matéria que têm para trabalhar. Ganha-se tempo (eles e principalmente o produtor) e imunidade contra erros passados.
No fundo, de novo não tem nada. As casas antigas já perceberam isso há muito tempo e… digam-me lá! Não é pelos mesmos motivos que gostamos tanto de comprar e ler livros de História?

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