O dilema da distribuição
É um facto que nos dias de hoje, a oferta de vinho é maior do que a procura. Pelo menos em Portugal. Longe vão os tempos em que os produtores provincianos se podiam gabar de criar e educado os filhos à custa de meia dúzia de pipas de vinho. Nessa altura, vender o que se produzia não era difícil. Já há muito tempo que isso mudou e quando toca a falar de "engarrafados", ui! A coisa afina!
A existência de empresas vocacionadas para a representação e distribuição de vinhos, inicialmente com o ónus de vender e fazer marca, é mais ou menos entendida e aceite por todos. O produtor não consegue chegar a todo o lado e o consumidor sente uma necessidade cada vez maior de não ter de se preocupar a procurar muito o vinho para o jantar.
No entanto, entendo que o conceito se começou a desgastar nos últimos 10 anos (?), encontrando-se hoje pelas ruas da amargura. Acompanhar um comercial na visita a clientes é como entrar num cenário de um qualquer filme de cartéis e negociatas, desses muito propícios a ter o nosso grande Joaquim de Almeida no papel do vilão maior.
Por outro lado, o "fazer" da marca é hoje uma obrigação exclusiva do produtor, se ele quiser, pois se não quiser…ninguém o fará! Os motivos e as justificações são sempre as mesmas. Ninguém está disposto a investir num vinho e depois quando o nome está feito ou encaminhado, o produtor ser assediado por outra distribuidora concorrente e lá se vai o trabalho… e o rendimento.
O mercado está em mudança. Adjuvado por esta maldita crise dos ricos, o consumo de vinho na distribuição tradicional (hotéis, restaurantes, cafés, garrafeiras) diminui drasticamente. Não serão também desprovidos de responsabilidade os pornográficos preços que grande parte destes agentes praticam. Com tudo isto, o foco virou-se quase inteiramente para a distribuição moderna (hipermercados, cash & carry…). Mas ali, quem manda são os grandes grupos e quem quer lá andar, até pode, mas terá de baixar as calças até aos joelhos. Acabam por ser os produtores a despir a sarja. Nem preço nem marca, apenas uma rotação que fechadas as contas não chega, folgada, para pagar a despesa.
A cereja no topo do bolo é mesmo o facto de ainda andarmos a pagar o disparate que foi o génese "cogumélica" de adegas, projectos e muitas marcas. Criadas sem nenhum plano coerente. Mantidas por carolice, vaidade e/ou nenhuma noção do negócio de vinho. As marcas são mais que muitas. Grande parte desses projectos estão em declínio ou falidos, a arrastar uma boa parte do sector com eles na penosa descida aos infernos. O mercado foi inundado de falsos vinhos baratos, muitos, que levam à carnificina e à política do salve-se quem puder.
Um amigo meu (é sempre um amigo, não é?) contou-me que está a ser boicotado pela sua própria distribuidora. As discussões estratégicas entre parceiros (produtores e distribuidores nunca contemplam aspectos de diferenciação, nem mesmo aceitação pela critica especializada. Conta apenas o preço! Não interessa se a região é grande ou pequena, se o produto é exclusivo ou massificado. Preço, preço e depois, preço. As distribuidoras demitiram-se do esforço da marca. Resumem a sua acção a disseminar vinho. Mas só se for barato. Apenas se for pedido!
Por isto tudo afirmo, sem grandes medos de errar, que o modelo faliu. Urge encontrar alternativa ou reinventar a distribuição.
Tal como está é o fim!
Por outro lado, o "fazer" da marca é hoje uma obrigação exclusiva do produtor, se ele quiser, pois se não quiser…ninguém o fará! Os motivos e as justificações são sempre as mesmas. Ninguém está disposto a investir num vinho e depois quando o nome está feito ou encaminhado, o produtor ser assediado por outra distribuidora concorrente e lá se vai o trabalho… e o rendimento.
O mercado está em mudança. Adjuvado por esta maldita crise dos ricos, o consumo de vinho na distribuição tradicional (hotéis, restaurantes, cafés, garrafeiras) diminui drasticamente. Não serão também desprovidos de responsabilidade os pornográficos preços que grande parte destes agentes praticam. Com tudo isto, o foco virou-se quase inteiramente para a distribuição moderna (hipermercados, cash & carry…). Mas ali, quem manda são os grandes grupos e quem quer lá andar, até pode, mas terá de baixar as calças até aos joelhos. Acabam por ser os produtores a despir a sarja. Nem preço nem marca, apenas uma rotação que fechadas as contas não chega, folgada, para pagar a despesa.
A cereja no topo do bolo é mesmo o facto de ainda andarmos a pagar o disparate que foi o génese "cogumélica" de adegas, projectos e muitas marcas. Criadas sem nenhum plano coerente. Mantidas por carolice, vaidade e/ou nenhuma noção do negócio de vinho. As marcas são mais que muitas. Grande parte desses projectos estão em declínio ou falidos, a arrastar uma boa parte do sector com eles na penosa descida aos infernos. O mercado foi inundado de falsos vinhos baratos, muitos, que levam à carnificina e à política do salve-se quem puder.
Um amigo meu (é sempre um amigo, não é?) contou-me que está a ser boicotado pela sua própria distribuidora. As discussões estratégicas entre parceiros (produtores e distribuidores nunca contemplam aspectos de diferenciação, nem mesmo aceitação pela critica especializada. Conta apenas o preço! Não interessa se a região é grande ou pequena, se o produto é exclusivo ou massificado. Preço, preço e depois, preço. As distribuidoras demitiram-se do esforço da marca. Resumem a sua acção a disseminar vinho. Mas só se for barato. Apenas se for pedido!
Por isto tudo afirmo, sem grandes medos de errar, que o modelo faliu. Urge encontrar alternativa ou reinventar a distribuição.
Tal como está é o fim!
Comentários
Depois de ter procurado (em vão, mas sem grande insistência, pois sou um vulgar consumidor blasé e pouco fiel) os vinhos da Quinta da Murta nos supermercados encontro aqui no seu blog a resposta que começava a suspeitar. Não tenho muitas dúvidas de que a grande distribuição explora os produtores para a seguir explorar os consumidores, ganhando na caixa mais do que o produtor ganha na vinha e na adega. Os consumidores também procuram o preço, e por talvez sejam quase sempre enganados e provavelmente coniventes na exploração dos produtores e consumidores. Eu também pois procuro o preço e, claro, a sua relação com a qualidade. Encontrei ambas nos seus vinhos, por isso os voltei a procurar. Por falta de tempo não costumo ir às pequenas lojas especializadas, mas sempre que fui tive boas surpresas, quase sempre a bons preços. Poderemos ainda encontrá-los nessas lojas? Não sei se a venda directa e online serão a solução, mas desejo-lhe as maiores felicidades nas suas opções. pela minha parte vou continuar a procurar (e beber) os seus vinhos.
Os melhores cumprimentos,
Sérgio R.
Agradeço-lhe a amabilidade das suas palavras. Sabe muito bem ver o nosso trabalho apreciado e reconhecido.
Não deixa de ter um sabor amargo perceber que, de alguma forma os vinhos não chegam ao consumidor, pelo menos, não com a facilidade com que poderia, mereceriam (?).
Na Quinta da Murta, estamos a estudar o caso e prevemos começar a resolver o problema antes do final do ano.
Os produtores têm de se unir para procurar soluções para a venda a preço justo dos seus produtos sem que para isso tenham de se sujeitar a todo o tipo de condições. É um trabalho longo e sinuoso, mas, estou em crer que, quanto mais cedo for começado, mais cedo se obterão resultados!
Muito Obrigado pelo seu comentário!