Jornalismo Vínico. Faz falta?
Não sou um tipo dogmático. Sou antes um gajo teimoso. Há assuntos que pela sua importância gosto de ver discutidos. Bem discutidos. E se preciso for, "re-discutidos".
O jornalismo vínico foi, por mim, abordado duas ou três vezes aqui e outras tantas no TWAfacebook.
Não mudei muito de opinião entretanto. Seguro de que respeito e até entendo os motivos pelos quais se faz o que se faz e como se faz (tanto faz, porra!), entendo que temos, hoje, crítica de vinhos, divulgação sobre as mais variadas formas e, de jornalismo propriamente dito, apenas alguns artigos de opinião e a meia dúzia de editoriais das revistas (que se calhar até é secundário ao sentido jornalístico propriamente dito, não sei.).
Desconheço como funciona nos outros países. Sinceramente não me interessa.
Pergunto-me muita vez se a existência de jornalismo vínico, puro e duro (nada inspirado nos noticiários), poderia trazer algum benefício ao sector. Se o facto de haver quem agitasse as mentalidades e pusesse discussão na mesa,quem confirmasse a veracidade de muitas declarações, quem pensasse mais longe do que as baunilhas, os chocolates e as framboesas revestidas a veludo cotelê em manhã de inverno, não seria um precioso elemento catalisador da discussão e evolução que as mentes do sector tanto precisam.
Não deixa de me parecer irónico que muitas das discussões anteriores tenham acabado nas duvidas existenciais e éticas sobre se fulano ou cicrano podem ser apelidados de jornalistas. Tudo isto num país onde praticamente não temos jornalismo vínico. E o pouco que há não traz consequências.
O que pensam disto? E Já agora, poderá esta discussão, esta procura de verdade e caminho ser proposta e mediada por outras pessoas/entidades? Se sim quem?
Comentários
Eu sei pouco sobre jornalismo, não me é fácil explicar. Vou tentar com um exemplo.
Há um ano, a RV fez uma reportagem alargada sobre bucelas. Falou com os 4 produtores mais activos e com o presidente da CVR.
No que respeita aos produtores, fomos os últimos a ser entrevistados pelo que podemos comentar algumas das afirmações feitas pelos outros. Mas os primeiros não tiveram essa hipótese. Sendo que existem abordagens diferentes quanto ao ideal futuro da região, penso que uma peça jornalística poderia ter explorado essa discussão (não no sentido quezilento, entenda-se). Mais gritante, foi o facto de à afirmação do presidente da CVR de que a região carecia de divulgação, ninguém lhe ter perguntado, sendo ele o responsável por essa divulgação, que planos tinha.
Pode não ser o exemplo mais gritante, mas penso que deve dar para entender.
Devo dizer, em salvaguarda do bom nome dos visados que, tive a oportunidade de discutir com os responsáveis da RV esta minha visão da reportagem, ao que me foi dada uma explicação que entendo e respeito. Tem a ver com uma linha editoria. Nada contra.
Tive ainda a oportunidade de interpelar o presidente da CVR que me deu a resposta que achou que deveria dar.
Apenas para demonstrar que falo no assunto porque já os discuti com os visados.
Mas este senário vejo-o repetido pelas outras publicações e demais ofertas de conteúdos. Limitam-se a transcrever o que lhes é dito sem sequer criticar. Isso parece-me que se chama divulgação.
A graça disto tudo Olga é que, durante muito tempo acalentei a esperança de que essa lacuna viesse ser colmatada por alguém da blogosfera. Pelo modelo amador e desprendido de obrigações que teria, pelo relativo afastamento das entranhas do sector e pela abordagem. Ainda não apareceu ninguém com essas características e, aceito que para estruturas mais profissionais o modelo não seja, simplesmente rentável e muito mais desgastante.
Acha que consegui dar-lhe uma boa ideia do que sinto?
Percebo e corroboro as suas preocupações. Compreendo a posição da imprensa. Percebo menos a posição dos bloggers.
O que me parece é que até agora tem havido uma oposição frontal de certos bloggers directamente contra quem prova, como prova e onde prova.
É esse o caminho? Não me parece. Parecem-me mais puras manifestações de frustações e ressabianços.
O caminho é outro, não é? Vamos às CVR's, p. ex. Porque aprovam elas determinados vinhos??? Porque são de casas famosas??? Porque mesmo fugindo ao perfil desejável...possuem um nome que lhes augura vendas seguras??? É isso, não é?
Penso que estou do lado certo. Estou onde me sinto bem que é a fazer vinho e a divulgar aquilo que gosto, a paixão de quem faz, os motivos que movem, as tentativas de melhoria, a história, enfim… a alma da coisa!
Tenho alguns projectos na calha para arrancarem e aprofundar essas ligações à raiz da produção, preciso de tempo que, felizmente, não tenho…. Vamos ver como as coisas se vão desenrolar no próximo ano.
Pois é Olga, ando há anos a tentar explicar o meu ponto de vista face aos blogs e aos bloggers. Tentei com uma primeira leva que hoje me acusa de ser contra os blogs. Nada mais errado, sou, isso sim contra as suas actitudes e abordagens. Contra a sua falta de energia e criatividade. Contra aquilo que me pareceu cedo serem as suas intenções. Abomina-me a total ausência de valores. Felizmente, hoje, posso afirmar que uma mão chega para os contar.
Não vejo sinceramente muita utilidade, para além do prazer pessoal que tiram daí (inegável e inquestionável), em apresentar todos os dias uma nota de prova diferente (quantas vezes inconsistente?). Isso já há quem faça, e melhor!
Continuo a acalentar esperanças, mas vai demorar tempo. Já há projectos engraçados que precisam de amadurecer e há velhinhos que se reinventaram e estão melhor que nunca. Nem tudo é mau.
Seguramente não são ainda a alternativa (que muitos deles ansiavam) nem a complementaridade (que eu desejaria).
Minha cara, não sou dono da verdade, muito menos adivinho o futuro, mas a história nunca avançou pela repetição. Avançou sempre pela inovação. Cada vez mais é pedido que se inove e se preencham lacunas. Poucos já viram isso!
Os problemas das CVRs pelo pouco que vou vendo está justificado pelo principio de Pareto. Se somarmos o valor pago para todos os selos de promoção facilmente chegamos a uma segmentação parecida com isto: 20% dos inscritos pagam 80% dos selos. Logo, sendo as CVRs entidades dos agentes económicos…. Tem aí a sua resposta! Quem paga manda!
Acha que é normal a brutalidade de castas estrangeiras que foram admitidas nos últimos anos para os vinhos D.O.C. e Regional? Não é explicita a intenção? Quantas leituras poderemos ter disto?
Mas é aqui que depois ninguém quer saber, uns porque a realidade deles acaba no linear do supermercado ou na caixa do correio, outros porque não sobreviveriam se enveredassem pela contestação e confrontação.