Bordéus - Post II
Visita a Produtores
Depois de uma pequena aventura para levantar um carro alugado - que a mim me parecia pouco maior que um porta chaves, mas que a senhora da Europcar garantia tratar-se de um parente dos Ferrari, tal o valor da caução cobrada - lá rumámos a norte, à procura da terra prometida.
Sara, a minha mulher, respeitando um acordo pré nupcial - no qual, sob pena de pesada coima, terá sempre "direito" ao volante desde que o trânsito a enfrentar obrigue a semáforos e filas de trânsito - conduziu o "bólide" até ao local combinado com o João Pedro Araújo , nosso guia e um profundo conhecedor do Bordéus vinhateiro. Estudou lá, entende a região e isso nota-se na escolha dos caminhos e das paragens para nos mostrar uma vinha, um produtor especial por isto, outro por aquilo, aquele local de onde só se vê vinha para onde se olhe, dos tipos a podar,das máquinas a cortar,.... ufff!
Primeira paragem: Cos D'Estournel (Deuxième Grand Cru)
Fomos recebidos por uma relações publicas que nos mostrou as instalações. Explicou o modus operandi e toda a filosofia envolta naquele produtor. Esta senhora, para relações publicas pareceu-me saber mais do que muitos técnicos. O que vos consigo dizer é isto, tecnologia de ponta, se existir, eles têm. Tudo obedece aos mais criteriosos padrões estéticos e arquitectónicos. Dizem também que qualitativos, mas, para ser franco, a qualidade não precisa de tanto (digo eu que sou obcecado pela optimização, pelo pormenor e pela assepcia). Uma adega que eliminou a utilização de bombas. Que tem elevadores para as cubas e uma belíssima estrutura que permite receber as visitas de forma principesca sem que estas interfiram no trabalho (que não vi. Não estava uma pessoa a trabalhar naquela monumental adega). A sala onde guardam as colheitas antigas é uma digna sala de museu e tivemos o privilégio de provar dois vinhos. Cos D'Estournel 2008 e Les Pagodes de Cos 2007. Não vou sequer tentar descreve-los. São ambos feitos de Cabernet e Merlot. Suaves, aveludados, pouco encorpados mas com força e presença que não consigo sentir na maior parte dos vinhos Portugueses. Sou cada vez mais fã deste tipo de vinhos (não necessariamente Franceses). Delicadeza é a palavra que mais facilmente me vem à cabeça para os definir.
Cos D'Estournel e Les Pagodes de Cos |
A poda nas vinhas do Medoc |
Numa das grandes coincidências da vida, conhecemos uma família Brasileira com um projector bem interessante, que vos desafio a conhecer e que mais à frente, depois de me encontrar com eles (faço questão de me encontrar com eles quando passarem por Portugal) falarei aqui!
Christian Brune os seus Châteux de Lauga |
Esta produção apresentou-se aos meus olhos como uma adega grande mas modesta, onde o equipamento existe para servir o vinho e nada mais. Não me pareceu que fosse uma adega feita para mostrar, mas foi-nos explicada (sim, explicada é a palavra!) pelo próprio "directeur d'exploitation". Ao fim das primeiras explicações percebi que a minha primeira impressão estava apenas ofuscada pela grandiosidade de Cos D'Estournel. Esta adega é, diria, mais funcional, feita para fazer vinho. Mas com tudo o que precisa para o fazer bem. Ponto. Uma sala de barricas maior do que a adega propriamente dita e com gente a trabalhar. Pudemos meter o nariz dentro das barricas novas.... foi muito bom! Aquela sensação da madeira estreada com vinho novo. O desfasamento entre a frescura verde do vinho e o doce da queima acabada de molhar, mas a deixar antever uma harmonia futura.
Nos vinhos, nota-se muito a diferença de classificação dos solos (eu só liguei de saber quais eram agora, enquanto escrevia o post). Estes mais pesados, mais densos, menos complexos que os provados em Cos D'Estournel. Ainda assim num patamar qualitativo bem elevado. Pediam quanto a mim, algum respeito e um pouco mais tempo de cama.
Labastide Dauzac 2007 e Chateau Dauzac 2008 |
Chegámos a Château Gruaud Larose (Deuxième Grand Cru) e já era noite. Fomos recebidos por um simpático senhor de abordagem simples, indumentária de trabalho e uma descontracção apenas comparável ao seu genuíno sorriso. Tratava-se de Phillipe Carmagnac, o "Maitre de Chai" . Tratou-nos como se fossemos gente de casa.
Visitámos tudo. Tudo me maravilhou. Uma adega de balseiros, uma outra de cimentos (esta mais usual para os meus olhos), uma pitada de tecnologia, belas ideias (falarei de uma em especial num outro post) e tudo, muito bem regado com uma imensa e maravilhosa sala de barricas. Para ser franco eram 3. Indescritíveis. Na segunda, onde estavam as barricas do ano, havia uma sala de prova como que se de uma varanda baixa se tratasse.
Château Gruaud Larose |
Château Gruaud Larose |
Château Gruaud Larose - Phillipe Carmagnac e João Pedro Araujo (Casa de Cello) |
Château Gruaud Larose colheita 1815 |
E pronto, foi isto. Um dia que pareceu terem sido 3 ou 4, tal foi a informação que tive (e ainda estou) a processar!
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