E você? Percebe de vinho?
Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não gosto de ser identificado como enólogo sempre que estou numa mesa de convivas ou numa mostra popular de vinhos.
A razão é simples. Quando esta questão é abordada, perde-se o à vontade na apreciação da bebida. Perde-se a espontaneidade e todos se sentem algo envergonhados por não conseguirem identificar a "relva cortada ainda com o orvalho da manhã", ou "um claro Bordéus de 1982, proveniente da margem esquerda, de uma zona alta". E depois? Eu também não e ando aqui!
Acabo por ouvir sempre a mesma frase. Confesso que me dá urticaria quando me dizem:
"Eu não percebo nada de vinho!"
Respondo a isso brincando, encetando um diálogo do género:
Hugo: Gosta de beber vinho?
Consumidor pseudo desinformado (CPD): Sim, muito!
Hugo: Quando bebe, há vinhos de que não gosta?
CPD: Sim, sim! Há alguns que não gosto. Olhe por exemplo: Este, aquele, o outro aqueloutro,...
Hugo: Compra o vinho que consome?
CPD: Sim, como esperava que fosse?
Hugo: Dentro do que pode, compra o que gosta mais??
CPD: Pois é claro!
Hugo: Então, sabe tudo o que precisa saber sobre vinho!
O ambiente costuma desanuviar e as festas prossegue. A verdade é que no final do 3º ou 4º copo já ninguém quer saber da apreciação para nada.
Mas será que é mesmo assim? Será que temos de confiar apenas na experiência do nosso palato, sem mais o quê?
Deixo-vos uma nota bibliográfica, escrita por um dos mais importantes wine writer dos nossos tempos, Hugh Johnson. No pequeno, mas delicioso livrinho, "Como apreciar vinhos" podemos ler, logo no arranque. Cito:
"Não olhe para o rótulo. Por momentos, esqueça o preço. Deixe-se levar por uma coisa apenas: gosta muito ou pouco do que tem no copo? Esta é a primeira regra para apreciar um vinho, embora seja mais fácil enunciá-la do que pô-la em prática. Como sabe se gosta muito ou pouco? Está longe de ser uma pergunta desnecessária."
Este é o mote que o autor dá para justificar a leitura e assimilação de conteúdos da obra. Mas não deixa de fazer sentido num plano geral.
Facilito-vos a vida. Ok, tendo em conta que os grandes vinhos representam até 5% do total produzido (este numero é da minha cabeça!). Vamos partir do principio que nestes, a "correcta" apreciação está dependente de um conhecimento mais aprofundado.
Mas e dos outros, dos mundanos 95%. Para os apreciarmos precisamos mesmo saber distingui-los, classifica-los, hierarquiza-los, ou.... por outro lado, basta mesmo só abrir a goela e lá vai disto?
ESCUTO!
Comentários
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Ricardo Cruz
Fico feliz por ter provocado essa reflexão!
hm
Lembro-me de uma conversa que tivemos no forum da Revista de vinhos sobre os "meus" vinhos. Muito obrigado.
Sinceramente, acho que quanto mais soubermos mais prazer conseguimos retirar, mas, até isso acaba por ser relativo!
Isso é fácil, Um vinho fortificado ajuda. Tem uma boa dose de açúcar e muito álcool para acalmar o espírito.
è só escolher entre as belíssimas ofertas que temos no nosso país! ; )