Revista de Vinhos - "Os melhores do ano 2012"
Não adianta falar sobre a importância do evento em si. Goste-se muito ou pouco, continua a ser "O Evento" para o sector. Mesmo quem não vai sabe o que é, quando é e, o peso que tem. Só ali conseguimos ver o sector aprumado nos seus mais engalanados fatos a empurrar-se para chegar a um bengaleiro, a uma flute de espumante ou a impedir estoicamente a passagem de uma porta, disfarçando uma conversa, quando na verdade recriam a mais heróica proeza de Marim Moniz. Não obstante, toda a gente se apresenta gira e feliz. Naquele dia não há problemas que tirem o sorriso da cara dos actores que contracenam nesta peça nacional.
È bom que estes momentos existam. Agradeço, publicamente, o facto da organização me continuar a convidar.
Como sabem, já há algum tempo que se realiza, alternadamente, em Lisboa e Porto. Este ano calhou no Porto. No belíssimo Centro de Congressos e Exposições da Alfândega do Porto. Para mim foi uma estreia. Gostei bastante do espaço, se bem que o jantar propriamente dito, tem outro sainete na arena do Campo Pequeno (digo eu que sou "mouro").
Continuo impressionado com o binómio qualidade/nº de pessoas servidas, no que ao jantar diz respeito.
Este ano houve uma novidade. Uma after party para quem quisesse prolongar o convívio. Belíssima ideia que não tive tempo de explorar pois os 250 km a fazer num periclitante veículo, pediam que me demorasse apenas o estritamente necessário. Tinha todo o aspecto de se tornar uma noitada catita... Não sei se foi! Se alguém quiser contar... Eu agradeço!
Muito bem... os prémios não é?
Pois agora é que a porca torce o rabo. Não tenho muito para dizer sobre isto. A escolha do que quer que seja é da responsabilidade dos elementos da revista. Todos devidamente identificados. Os motivos são por eles explicados e cada vez mais acho que, por mais importante que estes prémios sejam para o país, são a escolha daquelas pessoas, tendo em conta o universo de vinhos e de produtores que por ali passaram (na revista, entenda-se), e nunca deveremos perder isso de vista. Ponto.
Para ser justo e honesto, entendo que qualquer prémio para campanha publicitária deveria ser entregue, todos os anos, sem excepção, à Murganheira. Não há outra empresa que lhes chegue aos pés neste assunto. Senhor do vinho... certíssimo (e um discurso inspirado!). Restaurantes, chefes, garrafeiras lojas e wine bars... abstenho-me! Não tenho conhecimentos para avaliar isso. Organização do ano? Não ouvi falar dos vencedores em 2012, mas só me revoltaria se o prémio fosse para a CVR Lisboa. Aí faria uma vigília à porta dos organizadores exigindo a retirada do prémio. Não foi. Estou tranquilo. Enoturísmo. Também sou desconhecedor do que se faz. É algo que pretendo aprofundar mais durante este ano. Nada a declarar.
Chego à brilhante conclusão de que sou um profundo desconhecedor do meio. Não sei o que de tão especial se faz no projecto Duorum para merecer o galardão da viticultura. Mas acredito que seja coisa importante. Luis Sottomayor disse algo no seu discurso que concordo absolutamente. Foi mais ou menos assim: "Parafraseando Pinto da Costa quando diz que: quem treina o FCP arrisca-se a ser campeão. Quem comanda a enologia da Sogrape também se sujeita a ganhar prémios destes!". Concordo. Mesmo não conhecendo muito bem o seu trabalho, acho que entendo a dinâmica da Sogrape e não acredito que um mau enólogo pudesse ter lugar na estrutura, quanto mais ter o privilégio de ser o responsável de enologia. Produtor do ano para Mário Sérgio Nuno era algo que tardava, por isso... certo. O resto não me merecem comentários porque sinceramente não acompanho o suficiente. Ressalvo apenas o novo e "polémico" prémio para identidade e carácter entregue a Aphros-Casal do Paço Padreiro. Ainda é cedo para concluir, mas acho que este prémio pode ser algo que faltava na valorização de projectos um pouco mais marginais que por questões várias não cabem à vontade no mainstream da fileira.
Nos vinhos, como sabem, há uma distinção clara entre "excelência" e os "melhores do ano" (os primeiros saem de entre os segundos). Como disse no inicio, a escolha é do painel de provadores e não me cabe discutir as idiossincrasias que os levam a escolher uns em detrimento de outros. Passemos então à frente.
Aborrece-me o facto de, tirando os fortificados, encontrarmos apenas 3 vinhos brancos com excelência. Apenas 13% dos vinhos não fortificados. Espumantes 0.
E é esta a única conclusão que me merece real reflexão. Num pais com excelentes solos para vinhos brancos. Com soberbos climas para este tipo de vinhos. Porque raio não aparecem mais vinhos destacados. Para mim, a resposta é óbvia. Falta de vontade. Não gostamos de dar aos vinhos brancos, o tempo devido para se fazerem bem feitos. Obrigamos as nossas castas a fazerem vinhos para as quais não estão vocacionadas. Desconsideramos o potencial dos nossos solos plantando castas para encher chouriços e para alimentarem a futilidade dos aromas efémeros. Pena. Muita pena, pois sou um crente nas virtudes e potencial dos vinhos brancos e espumantes de Portugal.
Deixo um desafio ao consumidor. Peça vinhos brancos mais velhos. Peçam vinhos brancos de 2009 e 2010 (para começar sem assustar muito!), provenientes de zonas mais perto do mar. Vão ver que terão agradáveis surpresas e ajudarão a pressionar a produção para ter mais respeito por este tipo de vinhos.
Vão por mim que tenho provado coisas maravilhosas!
Comentários
Eu não tenho uma postura muito diferente. Até porque as listas são um trabalho ingrato e cansativo! ; )