Emoções de Vindima - Vontade de matar um!
Retirado daqui:
"In the good old days the combination of overwork, tension - and drink - [during the vintage] resulted in at least a couple of murders every year. "
Encontrei paz.
Finalmente!
Já por várias vezes me perguntei se... esta vontade de matar gente, durante a vindima, seria um exclusivo meu. Congratulo-me de saber que não!
Para quem leva isto a sério, é uma época de emoções no máximo. Pela forma como as coisas se fazem hoje, a janela de oportunidade para se realizar uma vindima de qualidade é muito curta (temos de garantir que a totalidade ou um máximo de uvas é apanhada na altura ideal).
Desta forma, surgem excessos de horas - daí enólogos e adegueiros terem muitas vezes três subsídios em vez dos dois habituais*. Não é incomum, alguém numa adega, começar a trabalhar às 8:00 e acabar, com material lavado e casa arrumada a horas tão simpáticas como 1:00, 2:00, 3:00, ... da manhã.
Percebem por isso, que graus de cansaço próximos da exaustão tragam ao mortal, uma confusão mental que facilmente desarruma a caixa craniana.
Das 7 vindimas + 1 estágio que tenho no pelo, já passei por muitas fazes diferentes, mas reconheço um padrão no meu comportamento.
Durante a primeira semana, há uma excitação em tudo aquilo, um estado de bebedeira seca. Tudo parece mágico. As primeiras uvas que entram, os esquemas que vinificação que correm na perfeição, os ensaios previamente definidos que se desenrolam consoante o fluxograma criado, o cheiro da uva fresca, os aromas dos mostos gelados, o zumbido da pressa, ah..... tudo parece celestial. Há um claro empanturrar de satisfação. Um orgasmo mental em tudo o que acontece.
A partir da segunda semana, a falta de cama começa a pesar. O inicio do dia tolera-se. Há um renovar de energia com a frescura matinal e a esperança de um dia mais calmo. Com o passar das horas e a subida do calor, as coisas começam a ter contornos insuportáveis. Apodera-se de mim um mal estar transcrito em respostas secas e pouco animadas. A noite é um suplicio. Entro frequentemente num estado de vigília parva a que dou o nome de "rabuje" (rabujem). Digamos que é a fase em que todas as armas de fogo devem ser afastadas de mim.
A partir da terceira semana, é o descalabro. È altura de ligar o piloto automático, confiar no talento e nas decisões tomadas antes de tudo aquilo começar. È seguir esquemas e decidir apenas pequenas coisas. Os colegas de trabalho começam a parecer-se com Orcs e o patrão uma personificação manhosa de Sauron.
Nesta altura, escondam qualquer objecto cujo aspecto suscite ao de leve, serventia para cortar, esmagar ou picar. Garanto que o usarei.
Felizmente, o meu amigo e companheiro de luta Igor Bocov, sabendo destas minhas deficiências mentais, toma para si toda as partes referentes à higienização. Não imaginam como o respeito, também por isso. Contorço-me, só de pensar em ter de lavar uma prensa, à meia noite, depois de duas semanas intensas de trabalho onde, independentemente do que fizer, 30 ou 40% da água é mandada de volta para mim, precisamente para a cara e carregada de mosto, películas e grainhas.
Estou certo que, não fosse essa atitude providente, já teria feito história!
*Não se trata de um prémio (não deixem que lhes chamem isso!) pelo trabalho e esforço extra, mas sim uma forma dessas horas serem pagas a preços mais baixos. Pagando horas, gastaria muito, mas muito mais que um salário extra.
"In the good old days the combination of overwork, tension - and drink - [during the vintage] resulted in at least a couple of murders every year. "
Encontrei paz.
Finalmente!
Já por várias vezes me perguntei se... esta vontade de matar gente, durante a vindima, seria um exclusivo meu. Congratulo-me de saber que não!
Para quem leva isto a sério, é uma época de emoções no máximo. Pela forma como as coisas se fazem hoje, a janela de oportunidade para se realizar uma vindima de qualidade é muito curta (temos de garantir que a totalidade ou um máximo de uvas é apanhada na altura ideal).
Desta forma, surgem excessos de horas - daí enólogos e adegueiros terem muitas vezes três subsídios em vez dos dois habituais*. Não é incomum, alguém numa adega, começar a trabalhar às 8:00 e acabar, com material lavado e casa arrumada a horas tão simpáticas como 1:00, 2:00, 3:00, ... da manhã.
Percebem por isso, que graus de cansaço próximos da exaustão tragam ao mortal, uma confusão mental que facilmente desarruma a caixa craniana.
Das 7 vindimas + 1 estágio que tenho no pelo, já passei por muitas fazes diferentes, mas reconheço um padrão no meu comportamento.
Durante a primeira semana, há uma excitação em tudo aquilo, um estado de bebedeira seca. Tudo parece mágico. As primeiras uvas que entram, os esquemas que vinificação que correm na perfeição, os ensaios previamente definidos que se desenrolam consoante o fluxograma criado, o cheiro da uva fresca, os aromas dos mostos gelados, o zumbido da pressa, ah..... tudo parece celestial. Há um claro empanturrar de satisfação. Um orgasmo mental em tudo o que acontece.
A partir da segunda semana, a falta de cama começa a pesar. O inicio do dia tolera-se. Há um renovar de energia com a frescura matinal e a esperança de um dia mais calmo. Com o passar das horas e a subida do calor, as coisas começam a ter contornos insuportáveis. Apodera-se de mim um mal estar transcrito em respostas secas e pouco animadas. A noite é um suplicio. Entro frequentemente num estado de vigília parva a que dou o nome de "rabuje" (rabujem). Digamos que é a fase em que todas as armas de fogo devem ser afastadas de mim.
A partir da terceira semana, é o descalabro. È altura de ligar o piloto automático, confiar no talento e nas decisões tomadas antes de tudo aquilo começar. È seguir esquemas e decidir apenas pequenas coisas. Os colegas de trabalho começam a parecer-se com Orcs e o patrão uma personificação manhosa de Sauron.
Nesta altura, escondam qualquer objecto cujo aspecto suscite ao de leve, serventia para cortar, esmagar ou picar. Garanto que o usarei.
Felizmente, o meu amigo e companheiro de luta Igor Bocov, sabendo destas minhas deficiências mentais, toma para si toda as partes referentes à higienização. Não imaginam como o respeito, também por isso. Contorço-me, só de pensar em ter de lavar uma prensa, à meia noite, depois de duas semanas intensas de trabalho onde, independentemente do que fizer, 30 ou 40% da água é mandada de volta para mim, precisamente para a cara e carregada de mosto, películas e grainhas.
Estou certo que, não fosse essa atitude providente, já teria feito história!
*Não se trata de um prémio (não deixem que lhes chamem isso!) pelo trabalho e esforço extra, mas sim uma forma dessas horas serem pagas a preços mais baixos. Pagando horas, gastaria muito, mas muito mais que um salário extra.
Comentários
Uma critica: três subsídios? quem os recebe!!! especialmente esse terceiro subsídio...
acho que deves saber que também há muito boa gente que faz horas na vindima (e resto do ano) e não recebe mais por isso. E não pode refilar muito, que o que falta por aí é gente para os substituir por um preço mais baixo, certo? Fora da lei? vai dizer isso aos patrões...
A prensa (e já agora as máquinas de toda a recepção de uva e outros equipamentos especialmente utilizados na vindima), podes lavá-la mais calmamente sem levar com água em cima, nem que seja com um bom fato, umas boas luvas, uns bons óculos, ou mesmo um capacete!!! acabaram-se as...cenas...na cara.
Quanto ao resto, percebo-te perfeitamente. Só não consigo é ligar o piloto automático, tenho que estar sempre atento se não o comboio começa a descarrilar por causa do piloto automático dos outros...
Fica bem, manda mais posts.
Obrigado pelo comentário!
Tudo isto tem de ser lido com alguma ironia e uma boa dose de humor!
Eu conheço algumas pessoas que recebem esses subsídios. Todos, no entanto, deveríamos recebe-lo! (eu também não recebo! Nem esse, nem uma hora a mais que faça ao longo do ano, ou ajudas de custo, ou seja lá o que for!). Contudo, entendo que é licito que seja considerado e que não seja esquecido! Não te esqueças de que o hábito faz o ladrão. Por isso, não recebemos, mas também não nos esqueçamos de que temos direito a ele, ou a outra medidada compensatória.
È óbvio que podemos arranjar maneira de não levar com a água na cara, mas... não é a mesma coisa. E com os fatos saímos todos molhados à mesma! ; )