Murta rosé 720 Nuits - 2012
È um facto que os vinhos da Quinta da Murta estão hoje
marcados, de forma indelével, pelo cunho que lhes imprimo. Dada a natureza do
projecto, mesmo não querendo, acabam por expressar em parte, as
minhas ideias, as minhas inquietudes e a minha noção de equilíbrio. Sinto
isto especialmente quando faço uma prova vertical a qualquer das referências, particularmente no
clássico e no espumante. Distingo de forma clara, os vinhos do Nuno Cancela de Abreu, uma zona de transição e
depois os meus. Tento imaginar como serão os do meu sucessor...
Pesa embora a forma como me revejo nos vinhos, não sinto qualquer das referências
existentes como criação minha. Eu sou apenas um fiel depositário que tem como
obrigações preservar, adicionar valor e preparar caminho para
quem se seguir.Todas elas foram criadas pelo Nuno (à excepção do Espumante rosé) , eu apenas as tenho
adaptado e feito evoluir, como é minha obrigação.
Nesta nova referência, no entanto, o sentimento é diferente. Fui eu quem "teve a ideia, boa?" , fui eu quem "inventou" o vinho, fui eu o "dono da bola". Fui eu que perguntei... Porque não?
È óbvio que em todos os vinhos, o resultado é fruto do contributo individual dos vários elementos de uma equipa, do seu suor, do seu esforço, por vezes até do seu sacrifício e da forma como vamos interagindo uns com os outros. Contudo, nada do que encerra esta garrafa existiria se, em 2008 eu não tivesse olhada para as barricas e para os rosés de uma outra forma, se não tivesse desejado contrariar as modas e testar esta louca hipótese. Feito crescer usando técnicas que já tinham provado servir para as demais referências da casa. Estágio longo em barricas muito usadas.
Isto não me traz mais que responsabilidade, entenda-se. Não quero nenhum tipo de reverência, nenhum tipo de distinção face aos meus colegas de equipa, mas... porra, ao fim de 9 anos aqui, ver finalmente sair um vinho que não existiria se eu aqui não tivesse passado, ver nascer uma nova história, é quase tão forte, pasmem-se, como ter mais um filho. È a certeza de que fica algo de mim.
È óbvio que em todos os vinhos, o resultado é fruto do contributo individual dos vários elementos de uma equipa, do seu suor, do seu esforço, por vezes até do seu sacrifício e da forma como vamos interagindo uns com os outros. Contudo, nada do que encerra esta garrafa existiria se, em 2008 eu não tivesse olhada para as barricas e para os rosés de uma outra forma, se não tivesse desejado contrariar as modas e testar esta louca hipótese. Feito crescer usando técnicas que já tinham provado servir para as demais referências da casa. Estágio longo em barricas muito usadas.
Isto não me traz mais que responsabilidade, entenda-se. Não quero nenhum tipo de reverência, nenhum tipo de distinção face aos meus colegas de equipa, mas... porra, ao fim de 9 anos aqui, ver finalmente sair um vinho que não existiria se eu aqui não tivesse passado, ver nascer uma nova história, é quase tão forte, pasmem-se, como ter mais um filho. È a certeza de que fica algo de mim.
O seu perfil sai tanto do que esperamos de um rosé que, sou
honesto, fiquei admirado, e não necessariamente feliz, quando me informaram que o
vinho tinha sido aprovado pela CVRLisboa. Hoje, depois de o termos mostrado a alguns amigos
e parceiros, fico ainda mais abismado com a aceitação que este vinho está a ter.
Pensei que seria daqueles vinhos que ou se ama ou se odeia…
Se calhar ainda não
o fizémos esquisito o suficiente!
Comentários
Quanto à sua "marca" nos vinhos da Murta é indiscutível, para quem conhecia os anteriores. E dou-lhe os parabéns, pois colocou o perfil dos vinhos (e da DOP) no caminho certo. Oxalá, todos os seus vizinhos fizessem o mesmo.
A propósito da sua reflexão sobre quem deve marcar os vinhos de uma quinta, gostava de lhe dizer que um dia perguntei ao José Bento dos Santos qual a marca que os vinhos de uma quinta deveriam ter, a do enólogo ou a do produtor. Sabe a resposta que ele deu? O produtor.
Eu concordo com ele! Infelizmente, a maior parte dos produtores não assume as suas responsabilidades.
Deixou-me sem palavras. Vindo de si, um comentário desses tem um peso ainda maior. Só consigo agradecer e esperar não seja ou não se torne imerecido.
Tocou num ponto importante e que me tem feito pensar muito nos últimos anos. Brevemente publicarei um post sobre o que penso do assunto, contudo, por agora lhe digo que não concordo inteiramente consigo. Mesmo no tipo de vinhos em que estes comentários se enquadram, eu diria sempre que o perfil deve ser definido pela vinha (no sentido lato do termo), a forma como o produtor a olha, os seus princípios, ilusões e sonhos (se os tiver) e o enólogo que, para fazer uma correcta leitura disto tudo tem de entender e comungar, pelo menos em parte, das mesmas ideias, dos mesmos rumos. Já vi muita coisa correr mal porque apenas duas destas variáveis funcionaram.
Não consigo, hoje, definir um responsável absoluto para o perfil de um vinho. Ao nível macro, será sempre um jogo de equilíbrios entre 4 variáveis. Ainda que, normalmente só ocorram 3: Vinha, mercado, Produtor e Enólogo.