Barulho... muito barulho!
As redes sociais trouxeram a falsa impressão de que as opiniões pesam todas o mesmo e que a sua validade depende mais do numero de reacções (gostos, visualizações, partilhas, comentários,...) do que do rigor + real nível de conhecimento que expressam. Só assim se explica a profusão de especialistas instantâneos em quase todos os assuntos. Com o Dr. Google nos dedos nunca mais seriamos ignorantes. Mas o espírito Wiki, falha redondamente... precisamente aí!
Não é certo que a verdade e a exactidão possam advir de um maior numero de concordâncias. Muitas vezes é exactamente o contrário. As vozes da razão são abafadas pela cacofonia de imbecilidades.
Uma singela liberdade interpretativa leva-me a pensar que o motivo está expresso nesta passagem do mais recente romance de Rui Zink:
"Um tempo houve em que, para se ser sábio, era preciso saber muito - ou pelo menos saber alguma coisa. Hoje é tudo mais fácil: para sermos sábios basta que o nosso interlocutor seja ainda mais ignorante que nós. - in: Factologia"
No pequeno e insignificante mundo do vinho isto não é excepção e a luta contra a desinformação é cada vez mais muda e inglória. Somos abafados constantemente pela expansão exponencial dessa espuma viscosa da ignorância.
Um dos temas onde mais se nota este flagelo (e aqui não estou a exagerar. Isto é um flagelo!) é na discussão sobre os vinhos naturais, bio-coisas ou lá o que é essa merda. Já me perdi no meio de tanto termo. Aviso já que é uma discussão vã, vazia de sentido ou nexo. Apenas e só porque nem a qualidade dos vinhos nem a sua salubridade está directamente dependente da filosofia que os origina. Vinhos maus são fruto de mau trabalho, métodos incorrectos e/ou falta de acompanhamento avisado. Bons vinhos são fruto do contrário.
E o post poderia acabar aqui.
Julgam que numa adega povoada por incompetentes, sem noções de assépsia ou equipamento condigno, apenas e só porque utilizam leveduras seleccionadas e encharcam o vinho com produtos enológicos pode existir qualidade? Jamais!
Em oposição, acham que o mais acérrimo defensor da biodinâmica, só por isso fará um vinho brilhante, ou miserável (depende da vossa posição sobre o assunto)? Jamais também!
Lembro-me de vinhos biodinâmicos geniais e depois percebo que são feitos por profissionais competentes em instalações condignas*. Outros há que têm defeitos crónicos, provocados, claramente por praticas mais amadoras e relapsas, mas por serem crónicos passam a ser distintivos e identitários do vinho. Têm consumidor? Nada contra então!
Se nos focarmos numa abordagem mais industrial, encontramos exactamente os mesmos extremos, embora com descritores diferentes. Sou só eu que não consigo beber um copo inteiro de um vinho com madeira induzida, mal trabalhada? Mas... Também se provam verdadeiras obras primas, não?
Resumindo, a qualidade de um vinho não depende em nada da filosofia utilizada. Depende sim de quem e com que conhecimento o faz.
O resto é barulho... muito barulho!
Um dos temas onde mais se nota este flagelo (e aqui não estou a exagerar. Isto é um flagelo!) é na discussão sobre os vinhos naturais, bio-coisas ou lá o que é essa merda. Já me perdi no meio de tanto termo. Aviso já que é uma discussão vã, vazia de sentido ou nexo. Apenas e só porque nem a qualidade dos vinhos nem a sua salubridade está directamente dependente da filosofia que os origina. Vinhos maus são fruto de mau trabalho, métodos incorrectos e/ou falta de acompanhamento avisado. Bons vinhos são fruto do contrário.
E o post poderia acabar aqui.
Julgam que numa adega povoada por incompetentes, sem noções de assépsia ou equipamento condigno, apenas e só porque utilizam leveduras seleccionadas e encharcam o vinho com produtos enológicos pode existir qualidade? Jamais!
Em oposição, acham que o mais acérrimo defensor da biodinâmica, só por isso fará um vinho brilhante, ou miserável (depende da vossa posição sobre o assunto)? Jamais também!
Lembro-me de vinhos biodinâmicos geniais e depois percebo que são feitos por profissionais competentes em instalações condignas*. Outros há que têm defeitos crónicos, provocados, claramente por praticas mais amadoras e relapsas, mas por serem crónicos passam a ser distintivos e identitários do vinho. Têm consumidor? Nada contra então!
Se nos focarmos numa abordagem mais industrial, encontramos exactamente os mesmos extremos, embora com descritores diferentes. Sou só eu que não consigo beber um copo inteiro de um vinho com madeira induzida, mal trabalhada? Mas... Também se provam verdadeiras obras primas, não?
Resumindo, a qualidade de um vinho não depende em nada da filosofia utilizada. Depende sim de quem e com que conhecimento o faz.
O resto é barulho... muito barulho!
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*Uso o termo condignas aqui com a finalidade, não de apontar tecnologia de ponta, mas cuidado para as questões de higiene e qualidade.
*Uso o termo condignas aqui com a finalidade, não de apontar tecnologia de ponta, mas cuidado para as questões de higiene e qualidade.
Comentários
Concordo plenamente com a sua colocação de que "a qualidade de um vinho não depende em nada da filosofia utilizada. Depende sim de quem e com que conhecimento o faz".
Perfeito!
Abraços,
Flavio
Um abraço.
Hoje as redes sociais permitem a muita gente afirmar taxativa e orgulhosamente : "a minha ignorância vale tanto como o teu douto saber".
Só que hoje em dia, a ignorância tornou-se arrogante, sobranceira, o que a torna ainda mais irritante e insuportável.
É verdade que a qualidade de um vinho não depende em nada da filosofia utilizada.
Depende sim, como o Hugo refere e muito bem, de quem e com que conhecimento o faz, mas também, mas também...para quem o faz.
É que hoje para se sobreviver, têm-se feito as coisas mais horríveis e tão sem jeito (como dizem os nossos "irmãos" brasileiros) só porque o "mercado" (detesto esta abstracção) assim o exige.
A minha referia-se apenas à dicotomia de filosofias que são muitas vezes defendidas como se a qualidade de uma obrigasse à falta de qualidade da outra.
Não é isso que acontece. Queria deixar isso bem claro! :)