Por que é que o Simplesmente vinho não é apenas uma feira de vinhos?
Uma feira off, para quem não sabe, costumo explica-la mais ou menos assim:
É um evento paralelo a uma feira: grande; importante; cheia de gajos de camisa e blazer; cara como o raio, cheia de formalidade, apenas acessível a produtores bem estabelecidos e com volumes de produção que justifiquem o investimento. As feiras off foram criadas como forma de produtores mais pequenos e menos abonados poderem ter acesso à demanda e qualidade de visitantes que acorrem às feiras principais. No final é uma situação em que todos ficam a ganhar pois representa mais oferta diversificada e não concorrente. Os produtores destas feiras são tendencialmente mais pequenos, mais focados numa abordagem mais interpretativa ou numa filosofia mais arrojada. A possibilidade de concentrarem numa pessoa toda a estrutura também é maior, o que enriquece substancialmente o dialogo.
Enquanto produtor revejo-me mais no conceito off. Sou pequeno, assim quero manter-me e os meus vinhos resultam da interpretação que faço das uvas. Tenho liberdade para que os meus vinhos mostrem as diferenças inerentes aos anos, posso dar-me ao luxo de só engarrafar aqueles em que acredito, também sou livre de experimentar abordagens mais minimalistas, enfim... não quero entrar na onda das filosofias radicais, mas o meu negócio permite-me a liberdade de fazer as coisas como quero, arriscando perfis mais ousados se for o caso.
O ambiente também é liberto de formalidade, sinto mais alegria no ar, mais festa e celebração como acho que deve ser com o vinho. Diria que, apesar das contas que todos temos para pagar, ainda se sente o prazer e a paixão no ar.
Tal como publiquei na ultima entrada deste blog, o Simplesmente decorreu este fim de semana, a minha barrica foi a 66 e tive muito gosto em receber quem me quis visitar. Infelizmente nunca provo a quantidade de vinhos que gostaria, nunca retribuo condignamente as visitas que outros colegas me fazem, mesmo com a preciosa ajuda e companhia da Sara, a minha mulher, nunca tenho tempo para descobrir novos vinhos que me tragam novas inspirações. Ainda assim, saio sempre cheio delas, de reforço positivo e alegria por fazer parte disto. A sério... é assim que me sinto!
Aproveito para relembrar que o castelão está em pré venda até final da semana e que teve uma aceitação substancialmente superior à que esperei. Por isso, não se atrasem.
De tudo o que vivi aqui este ano, deixem-me contar-vos um pequeno episódio que me deliciou.
Tenho um patrono que até sexta-feira passada, por distracção minha, achava tratar-se apenas de um consumidor picuinhas com pedidos estranhos, mas que por graça me desafiavam, especialmente no espumante. A verdade é que não sou muito de tentar sacar informação que não me é devida (e às vezes nem essa) e por isso não tinha ainda entendido o motivo de tanto pedido fora da caixa... até que... sexta feira lá estava ele, não para me ver mas para apresentar os seus vinhos ao mundo... e que vinhos... sobretudo os espumante feitos pelo método ancestral. Quis o sorteio que fossemos vizinhos de barrica e isso fez com que aqueles dois dias tivessem mais graça (até porque para variar... esqueci o saca rolhas em casa!).
O projecto chama-se Protótipo e o seu autor ainda dá os primeiros e envergonhados passos neste mundo da produção. A meu ver só tem motivos para se orgulhar do belíssimo trabalho que ali mostrou. Gostei de tudo, dos vinhos, dos rótulos e da atitude. Manuel Valente, muitos parabéns e vida longa para estes maravilhosos vinhos. No que puder ser útil, cá estarei.
Agradeço a todos que me visitaram. Patronos, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, colegas, futuros patronos. A vossa visita é sempre importante, as vossas impressões são mais ainda. À organização os meus parabéns, não sei bem como o fazem mas saio sempre com vontade de voltar.
Muito obrigado a todos.
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