Hugo Mendes Lisboa Castelão 2019, o primeiro dos tintos
A proposta era simples. Um dos produtores com quem comecei a trabalhar recentemente tinha uns pequenos talhões de Castelão que me despertaram a atenção logo que deles ouvi falar. Há algum tempo que trabalho a casta no Vale das Areias e há muito que entendo que a casta tem um potencial por desenvolver na região (ou redescobrir, quem sabe!). Gosto dela pela sua simplicidade e franqueza dos seus vinhos, penso que ainda temos muito a fazer, mas não vos irei maçar com isso agora. A verdade é que pedi para a vinificar e ficar com uma parte para mim.
Duas parcelas em zonas distintas da influência do Montejunto, com maturações bem diferentes entre si. Apanhadas em simultâneo e fermentadas em conjunto.
Vinificação simples, do mais simples que é possível. Desengace total, cuba fechada, fermentação espontânea, remontagem com a frequência necessária para manter o vinho são seguido de prensagem cedo porque não tenho interesse na cor ou na dureza dos taninos extraídos pelo final de fermentação. A fermentação malolática também se deu espontâneamente e depois lá se meteu alguma coisita em barrica para ajudar a temperar a fruta exuberante. Dormiu o inverno... Dormiu boa parte da primavera...
Logo de inicio deu sinais de querer ir para a garrafa cedo, tal como os seus irmãos brancos (olha... nos dias que vivemos, esta frase fora do contexto pode dar merda!) e foi isso que aconteceu.
É óbvio que a garrafa lhe irá fazer bem, mas já me dá um prazer grande bebe-lo agora (os 14% de álcool também ajudam), com uma temperatura mais baixa (12-13ºC) tem-se tornado num bom companheiro de mesa por estes dias de desconfinamento e de uma fome que pede pratos mais leves e menos condimentados. O balanço entre os dois talhões deu-lhe uma mistura de fruta com uma linha herbácea que lhe dá vida e vibração. A baixa temperatura ganha uma cremosidade que lembra uma mistura que adoro, leite creme com cerejas... mas menos doce, estão a ver a sensação? Depois é aquela sensação que já sinto nas outras referências... um vinho que me vai conquistando ao longo do copo e da garrafa, que me apetece beber mais e mais e que quando dou por ele... "oh bolas... acabou!"
E que bonita que fica a garrafa numa mesa cheia das cores do verão.
Estou maravilhado com este Castelão que me sabe a Castelão e me lembra alguns dos vinhos de outrora. Num mundo onde os vinhos são cada vez mais complexos, fascina-me [também] cada vez mais o prazer da simplicidade.
Produzimos 3000 garrafas numeradas de 0,75L, das quais existem cerca de 2000 depois da pré vendas que serão comercializadas ao PVP de 12€, nos locais habituais depois dos patronos receberem as suas. Produziram-se ainda 100 magnum que serão comercializadas a 25€.
Espero que que vos dê tanto prazer como me tem dado a mim, e não se coíbam de abrir uma ou duas para acompanhar o verão, vão ver que não se arrependem! :)
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